Por Jair Donato
Por que muita gente espera do outro, aquilo que ela mesma talvez nunca possa oferecer? Lidar com as expectativas é uma habilidade, e quem não a possui pode gerar doenças. A pessoa que espera muito do outro ou faz o que ele não pediu, pode criar uma expectativa que posteriormente não corresponderá ao esperado, e com isso pode frustrar-se.
Há quem em alguns casos pode somatizar algum tipo de patologia.
É fato que o indivíduo desenvolve a tendência de traduzir o mundo externo conforme os moldes internos que possui, e por vezes enclausurar-se nesse próprio universo. Dessa maneira ignora todas as incongruências adjacentes em si, no outro e no ambiente ao redor dele.Pois nem sempre o mapa é o território. Ou seja, é quando parte do que forma a realidade do indivíduo não é sedimentada em fatos, e sim nas próprias interpretações, percepções do próprio mapa interno.
O filósofo Michel Foucault define que o indivíduo nunca está diante de um objeto real concreto, e sim de um objeto real de conhecimento, algo construído por ele mesmo. O próprio contexto cultural, ambiental e familiar é propício para formação dessa construção.
O descontentamento é algo que pode surgir quando se espera ou exige demais dos outros, a exemplo da mãe que espera que os filhos realizem os desejos que são dela, e não deles.Ou o exemplo dos pais que praticamente obrigamos filhos a cursarem na universidade o curso que tem haver com a frustração deles, e não com a realização dos filhos. Há também a situação da esposa que espera que o marido seja o modelo ideal que ela mesma criou, e têm dificuldades de aceita-lo como ele se apresenta. Isso se traduz numa falta de respeito à individualidade do outro, quando se espera que ele aja conforme o que o indivíduo espera ou acha que seja certo.
Então, é importante compreender a posição do outro na vida, mesmo que ele seja seu parceiro por uma vida inteira.
Evitar moldar o comportamento dele para não contrariar o seu pode ser a forma certeira de evitar o afastamento e a perda de afinidades, devido à pressão e sufoco provocados. Afinal, cada pessoa tem um canal de percepção sensorial que se distingue conforme a cultura, o meio em que vive, aos traços da própria personalidade, como também à linguagem que lhe é comum e às crenças que possui. Essa diversidade merece respeito.
A enfermeira australiana BronnieWare, após convivência durante anos com doentes terminais, publicou um livro sobre os cinco maiores arrependimentos que as pessoas têm antes da hora da morte. E o primeiro deles se refere a frustração de não ter aproveitado a vida do jeito delas, e sim da forma que os outros queriam. Isso é frustrante. Segundo a autora, é na hora que a vida chega ao fim que fica mais fácil perceber quantos sonhos foram deixados para trás, em prol de agradar mais aos outros do que a si mesmo.
Quantas mães fizeram sacrifícios pelos filhos, esposas que fizeram tanto pelos maridos, e vice-versa, um amigo que diz ter feito o máximo pelo outro. Mas,será mesmo que eles pediram isso? No entanto, da parte de quem fez foi colocado um tempo nisso. E no fim da vida, é como se a pessoa que se dedicou tanto pensando em agradar, cobrasse pelo que fez, numa espécie de acerto de contas. Daí surge a frustração, o descontentamento e até mesmo a mágoa. “Fiz tanto por você e isso é o que recebo de volta?”, esse é um típico comentário que retrata tal fato.Talvez, não haja declaração mais frustrante do que o arrependimento pelo que poderia ter sido feito antes. E você, o que ainda não fez por você, mas que poderia fazer? Como lida com suas frustrações sem projetá-las nos outros?
Jair Donato é jornalista em Cuiabá, professor universitário, palestrante, consultor e especialista em Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida. E-mail: jair@domnato.com.br